No ano de 2022, 144 crianças de 0 a 11 anos foram vítimas de estupro de vulnerável na Paraíba. Em 2021, o número foi ainda maior: 169 casos. Os dados foram solicitados pelo Núcleo de Dados da Rede Paraíba à Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Social (Seds) e mostram um número alarmante: cerca de 12 crianças foram vítimas de estupro de vulnerável infantil por mês, em 2022, na Paraíba.
As vítimas de abuso sexual infantil na Paraíba têm, principalmente, entre 6 e 11 anos, mas também há registros de crianças com 2, 3, 4 e 5 anos.
Maria da Silva (*nome fictício) está nas estatísticas de anos anteriores. Ela tinha apenas sete anos quando a vida começou a se despedaçar aos poucos. Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma criança. Para o vizinho, uma mulher. Ou um objeto. Maria foi vítima de abuso sexual infantil por cerca de dois anos. A dor física pode ter durado alguns dias, mas os danos causados vivem com ela até hoje. “Somente aos 20 anos eu fui compreender que era abusada na infância”, desabafa Maria, hoje com 40 anos. Apesar de difícil, entender a própria história foi determinante para ler a sequência da vida.
Sofrendo em silêncio
Maria brincava junto com uma amiga da mesma idade quando os abusos começaram a acontecer. Uma ia para a casa da outra. No entanto, na casa da amiga, o irmão (que tinha entre 19 e 20 nos) “ficava dizendo que ia brincar de casinha com a gente”. Com isso, pedia para que a irmã fosse buscar os brinquedos dentro de casa. Quando ela saía, o rapaz afastava a calcinha de Maria e tocava nas partes íntimas dela.
“Eu ficava sem entender, morava no interior e educação sexual sempre foi tabu há cerca de 30 anos. Ele sempre fazia isso e dizia que se eu contasse a alguém, ia matar minha mãe. Eu ficava com medo”, explica Maria.
Com receio de voltar para casa da amiga, Maria sempre repetia que não queria ir. A mãe, sem entender, tentava explicar que não tinha problema, que ela poderia ir. Os abusos, então, continuaram a acontecer. E se postergou por dois anos.
No último abuso, o homem tentou levar Maria para cama e colocou o órgão genital para fora da roupa. Em seguida, usou o dedo para estuprar a criança. Sentindo muita dor e sangrando, Maria saiu correndo. Mesmo assim, temendo pela vida da mãe, não contou nada para a família. Mas deixou de frequentar a casa da amiga, que se mudou da casa duas semanas depois.
Para Maria, seria o fim de um sofrimento silencioso. Mas não imaginava que as consequências a acompanhariam pela vida adulta.
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